O acaso acontece a todo momento a nossa volta sem que notemos. E mesmo quando tiramos proveito dele, não o percebemos e atribuímos os créditos a sorte. Por isso, por uma questão de justiça, proponho aqui darmos “nomes aos bois” e te convido a conhecer o conceito de serendipismo.

A palavra serendipismo é a tradução para o português de “Serendipity”, que foi usada pela primeira vez em 1754, pelo escritor inglês, Horace Walpole, e se origina do livro “Os Três Príncipes de Serendip”, publicado em Veneza, em 1557, por Michele Tramezzino.

O livro conta a história de três príncipes que viajavam por diferentes reinos e estavam sempre fazendo descobertas acidentais de coisas que não estavam buscando. As descobertas eram atribuídas à sagacidade dos príncipes.

Portanto, Serendipismo é o ato de fazer descobertas ao acaso, por acidente e sagacidade.

Inúmeras descobertas importantes no mundo das ciências aconteceram por serendipismo, como por exemplo, a descoberta da penicilina, da lei da gravidade e a criação da técnica de pasteurização, largamente utilizada para conservação dos alimentos. E é do criador desta técnica, o cientista Louis Pasteur, a frase “O acaso só favorece a mente preparada”.

Trazendo esta máxima para atualidade, podemos entender que para tirar proveito do acaso precisa-se ter a mente treinada, com senso de observação aguçado e com o foco aberto para perceber as oportunidades, até em situações que podem parecer irrelevantes, e agarrá-las.

Ter a mente preparada significa estudar e conhecer todas as nuances dos seus pontos de interesse, ter o costume de se aprofundar nesses assuntos, para que o seu cérebro possa acessar estas informações, quando necessário, formando pontes com outras informações recém chegadas, mesmo que elas não estejam diretamente relacionadas. Estas pontes são os famosos “insights”, termo que, traduzido para o português, significa a compreensão súbita de alguma coisa ou situação. Algo como uma epifania, que só acontece para quem tem um cérebro treinado para ser sagaz.

Expandindo ainda mais os pensamentos, eu diria que é necessário ter uma mente aberta, questionadora e filosófica. E quando digo “mente aberta” eu me refiro a todos os significados implícitos neste termo e listo aqui os que considero mais importantes:

Ter a mente aberta, é não subestimar, nem superestimar pessoas e situações e não julgar pelas aparências, ou melhor, não pré-julgar. É buscar conhecer alguém ou algo antes de conceitua-lo;
É saber da importância de ter foco e planejamento, mas entender que estreitar demais o foco pode ser um grande erro e que é crucial ampliá-lo pois, muitas vezes, as respostas que precisamos estão ao nosso lado e não a nossa frente. Ter um foco aberto é retirar as viseiras dos nossos cavalos internos;
É saber onde se quer chegar e seguir adiante, mas se permitir sair da estrada principal e explorar caminhos alternativos, de vez em quando. Pois é assim que e se descobrem cachoeiras com enxurradas de novas ideias e encontram-se atalhos que encurtam as distâncias.
Ter a mente aberta, é saber significar e enxergar a beleza das metáforas;
É deixar que um assunto puxe o outro e filosofar sobre eles;
É questionar as respostas prontas e formar sua própria opinião;
É não ter medo de ser incoerente e mudar de ideia, se as suas reflexões te levarem a isso;
É não esquecer que descobrir também é criar. Descobre-se uma coisa e cria-se algo ainda melhor. Descobre-se o “porque” e cria-se o como. Descobre-se o “como” e cria-se um método. Descobre-se um “método” e chega-se a solução. ]

Seguindo por esta linha de raciocínio, podemos dizer, inclusive, que expandir a mente é se permitir um pouco do que o cientista italiano, Domenico de Masi, chamou de "Ócio Criativo". Sim! Ter a mente aberta é saber identificar quando ela precisa de descanso.

Então, se você é do tipo que costuma expandir a mente, pode parar de contar com a sorte! Dê chance ao acaso!


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