Escrito por Sulivan França - 17 de Junho de 2019

Imagine, por exemplo, que você seja péssimo em algum esporte e cometa os mesmos erros sempre que tenta executar algum fundamento dele. Você cobra a falta, mas a bola fica na barreira ou vai longe do gol. Bom, neste caso, 10 mil horas de treino onde esse erro acabe sendo repetido não irão melhorar seu jogo.

Você ainda será péssimo. Apenas terá mais tempo de prática.

O que os especialistas no tema afirmam é que ninguém se beneficia de uma repetição mecânica. É necessário que você ajuste a execução várias vezes, até chegar mais próximo do seu objetivo. Do contrário, você no máximo vai bater na trave.

Com exceção de alguns esportes em que características físicas como o peso e a altura sejam determinantes, como o basquete ou rúgbi, qualquer pessoa consegue atingir os mais altos níveis de desempenho se praticar de uma forma inteligente.


O segredo da vitória consiste em um treino determinado em que um especialista o guia por meio de um trabalho bem-planejado ao longo de meses ou anos. E, neste contexto, você se dedica com concentração total.

Horas e horas seguidas de treinamento são necessárias para se conquistar um excelente desempenho, mas não são suficientes. A maneira como especialistas de qualquer área utilizam a atenção durante o treino faz uma diferença fundamental.

Uma prática inteligente sempre inclui um esquema de feedback, que permite reconhecer erros e corrigi-los. É por essa razão que dançarinos treinam diante de espelhos. O ideal é que o feedback venha de alguém com olhar de especialista. Se você pratica sem esse feedback, você não chega ao topo. O feedback é importante, assim como a concentração. E não apenas as horas. Sejam 5 mil, 10 mil ou 20 mil delas.

Faça um teste: você pratica alguma atividade que se considera muito bom? Como foi seu treinamento para chegar ao ponto atual? Você acredita que poderia melhorar sua prática?

Outro ponto relevante é que sonhar acordado acaba com qualquer treino. Foco é tudo. Quem assiste TV enquanto se exercita nunca chegará ao topo.

É preciso pensar na atenção como um músculo mental que pode ser fortalecido por meio de exercícios como a memorização e a concentração. E é até possível realizar com sua mente algo equivalente ao que o levantamento de peso oferece aos seus braços e peito. Faça o seguinte: sempre que perceber que sua mente está divagando, traga ela de volta ao alvo.

Esta é a essência do foco em uma direção, algo que é utilizado na meditação. Para a neurociência, tal ato envolve o treinamento da atenção. Na prática meditativa somos orientados a sempre manter o foco em algo, como um mantra ou na nossa respiração.

Porém, ao tentar fazer isso durante um tempo, invariavelmente, sua mente vai divagar. A instrução diante disso costuma ser a seguinte: ao perceber que você está divagando, traga sua mente de volta ao ponto de foco. E mantenha sua atenção nisso. Quando ocorrer uma nova divagação, repita o processo. E mais uma vez. E de novo. De novo.

Como em qualquer exercício, quanto mais repetições são feitas, mais forte o músculo fica.

Faça um teste: como você classifica a sua concentração? Como você faz para trazer sua mente para o foco quando ela "viaja"? Você tem alguma técnica para manter o foco?

Porém, há ainda a importância de saber no que se concentrar. Existem estudos que sustentam que focar em experiências negativas é uma excelente receita para entrar em depressão.

Imagine, por exemplo, que você fez algo e, por conta disso, recebe dezenas de elogios. Mas, lá no meio, surge uma crítica bastante incômoda e que te parece até mesmo injusta. O recomendado, neste caso, é procurar focar nas experiências positivas, pois elas ampliam nosso raio de atenção.

Quer entender o que é uma perspectiva positiva? Trata-se da atitude de acreditar que mudar para uma nova cidade, por exemplo, oferece oportunidades boas, como conhecer lugares e pessoas diferentes, em vez de achar que a mudança será um passo assustador.

Para a ciência está claro que o pensamento positivo reflete áreas de recompensa do cérebro. Quando nos sentimos felizes é ativada em nossa mente uma região que parece ser vital para a motivação e para a sensação de que estamos fazendo algo recompensador.

Com isso, também há a presença da dopamina e neurotransmissores como a endorfina nos circuitos cerebrais, o que alimenta a nossa motivação, persistência e nos dá uma sensação de prazer.

Pesquisas já demostraram que pessoas deprimidas, por exemplo, têm mais dificuldade de manter os sentimentos positivos após assistirem uma cena feliz na comparação com voluntários saudáveis.

O pensamento positivo traz grandes benefícios ao desempenho, por energizar a pessoa para que ela se concentre melhor, pense com mais flexibilidade e persevere.

Reflita sobre uma questão: se tudo funcionasse perfeitamente na sua vida, o que você estaria fazendo em dez anos? Tal pergunta nos desafia a sonhar, avaliar o que realmente importa para nós e como isso pode guiar as nossas vidas.

Faça um teste: você se considera uma pessoa positiva? Como você reage diante de um problema? Para você, mudanças são oportunidades ou costumam te deixar ansioso?

Também no treinamento pessoal, a positividade é produtiva. Uma conversa que trata de sonhos pode extrair objetivos concretos e oferecer caminhos para alcançá-los. Já uma abordagem que se concentre nas fraquezas da pessoa e o que fazer para remediá-las gera sentimentos de culpa e medo.

Por exemplo, um pai que decide punir o filho que tirou nota ruim na escola até que ele melhore pode causar um estrago pior. A ansiedade de ser castigado prejudica regiões cerebrais da criança enquanto ela tenta se concentrar e aprender, o que cria ainda mais barreiras para alguma melhora.

Por isso, aposte mais nos sonhos e como viabilizá-los do que em castigos.

Serve para pais e filhos e também para os escritórios. A falta de concentração, na forma de divagação da mente, pode ser a maior fonte de desperdício de atenção no local de trabalho. Já a atenção plena permite que o foco ocorra no que estamos fazendo, no aqui e agora, em vez daquele fluxo de pensamentos sobre nós mesmos.

Tal controle ajuda, sobretudo, quem costuma não se desligar dos contratempos, mágoas e decepções. Ele permite que nós consigamos bloquear o fluxo de pensamentos que poderia nos levar a afundar na tristeza. Em vez de sermos abatidos por tal fluxo, temos condições de fazer uma pausa e observar que são apenas pensamentos e, assim, decidir se iremos ou não fazer alguma coisa a respeito deles.

Em resumo, a prática da atenção plena fortalece o foco, especialmente o controle executivo, a capacidade de memória de trabalho e o poder de manter a atenção. Alguns desses benefícios podem ser percebidos com até 20 minutos de prática por apenas quatro dias. Muito embora, quanto mais tempo se pratique, mais duradouros sejam os efeitos.

Muito festejado, o conceito de multitarefas pode ser considerado como a ruína da eficiência. Interrupções rotineiras de um determinado foco no trabalho podem significar minutos perdidos para a tarefa original. Podem ser necessários de 10 a 15 minutos para o foco total ser recuperado.

Faça um teste: com que frequência você se vê obrigado a realizar muitas tarefas ao mesmo tempo? Como você costuma se sair nessas situações? O que poderia fazer para mudar? 


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