Um ditado popular afirma que os últimos serão os primeiros. Mas poderia um dos piores times da Liga Nacional de Futebol Americano, a NFL, se tornar um dos melhores apenas com a mudança de hábitos por parte de seus atletas? É no que apostava o treinador americano Tony Dungy, quando chegou para comandar o Tampa Bay Buccaneers em 1996. E olha que naquela época, a equipe não cansava de dar vexame em campo.
Acumulava derrotas e mais derrotas em toda a temporada. Conseguiram a façanha de serem massacrados até pelo Detroit Lions, outra equipe tão ruim que seria carinhosamente descrita como "o passado de um time sem futuro". Pois o Detroit havia vencido o Buccaneers naquele ano por 21 a 6 e, em um novo encontro, por 27 a 0. Por tudo isso, os Bucs vinham sendo chamados por alguns comentaristas esportivos de "o capacho cor de laranja dos EUA", em referência às cores de seu escudo.
Foi nesse cenário nada animador, que Dungy, cujo emprego obviamente parecia estar bastante ameaçado, decidiu que iria introduzir uma metodologia pouco convencional a seus jogadores. Ele queria que seus comandados passassem a responder da forma mais automática que fosse possível às jogadas dos times adversários. O treinador ia além. Na verdade, queria que os atletas do Buccaneers sequer pensassem antes de fazer um movimento. Acreditava que isso os faria se tornar uma equipe bem-sucedida.
O objetivo do técnico era que seus jogadores mudassem alguns hábitos e passassem a responder de maneira imediata em campo, que deixassem de lado as alternativas racionais a cada uma das jogadas. Ele pregava: "os campeões não fazem coisas extraordinárias. Fazem coisas ordinárias, mas as fazem sem pensar, rápido demais para o outro time reagir. Seguem os hábitos que aprenderam".
A aposta acertada de Dungy era de que os hábitos não são removidos facilmente, mas podem ser transformados. E esta mudança ocorre quando uma nova rotina pode substituir uma existente, a partir de um mesmo estímulo e recompensa. Ele queria operar na etapa intermediária do loop do hábito. Sabia por experiência que era mais fácil convencer alguém a adotar um novo comportamento se existe algo familiar no começo e no fim.
Desta forma, seus treinamentos consistiam em alinhar estímulos e recompensas existentes a rotinas novas. Como tais rotinas eram bem mais simples, permitiam que os atletas atuassem em um contexto com menos escolhas e a partir de hábitos mais instintivos e imediatos, ou seja, bem menos racionais. Sua estratégia como treinador dava cara a um axioma, uma Regra de Ouro da mudança de hábito, segundo indicaram diversos estudos, está entre as ferramentas mais poderosas para gerar mudanças. Dungy reconhecia que jamais se pode eliminar verdadeiramente hábitos ruins.
Em vez disso, para alterar um hábito, é necessário manter o velho estímulo e oferecer a velha recompensa, mas introduzir uma nova rotina. Esta é a regra: você usa a mesma deixa, fornece a mesma recompensa, mas troca a rotina e, assim, consegue alterar aquele hábito. Quase todo comportamento pode ser transformado se o estímulo e a recompensa seguirem como antes.
A Regra de Ouro já influenciou tratamentos contra o alcoolismo, obesidade, transtornos mentais e centenas de outros comportamentos considerados destrutivos. Entendê-la pode ajudar qualquer pessoa a mudar seus próprios hábitos. Tentativas de evitar o consumo de lanches ou cigarro, por exemplo, muitas vezes fracassam a não ser que haja uma nova rotina para satisfazer os antigos estímulos e anseios por recompensa.
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Com a nova metodologia, o Dungy acumulou feitos com os Buccaneers os transformando em um dos times mais vitoriosos da liga. Os dias de humilhação da equipe haviam ficado no passado. O técnico também virou uma lenda, ao se tornar o único treinador da história da NFL a chegar às finais em dez anos seguidos. Suas técnicas se disseminaram por toda a ligas e por todo o mundo dos esportes. Sua forma de abordar ajudaria a esclarecer como se transformam hábitos na vida de qualquer pessoa.
Criado em 1934 em Nova York, outra metodologia de alterações de comportamento que ganhou fama em boa parte do mundo foram os 12 passos do A.A., os Alcoólicos Anônimos. Por ano, estima-se que 2,1 milhões de pessoas buscam ajuda em grupos do A.A. a cada ano. É possível que até 10 milhões de alcoólatras tenham deixado o vício por meio das reuniões do grupo, embora o anonimato dificulte um levantamento mais preciso de dados.
O que o A.A. oferece é uma metodologia para atacar os hábitos que cercam o consumo de álcool. De certo modo são como uma máquina gigante para alterar loops de hábitos. A essência dos 12 passos foi incorporada a programas para tratar alimentação compulsiva, vício em jogos de azar, sexo, dívidas, drogas, tabagismo, dependência emocional, entre muitos outros comportamentos destrutivos.
Como muitos dos 12 passos citam Deus e a espiritualidade, muitos pesquisadores torciam o nariz para o A.A. Porém, uma reavaliação indicou que os métodos do programa forneciam lições valiosas que endossavam a Regra de Ouro da mudança de hábito. O A.A. dá certo ao ajudar alcoólatras a usarem os mesmos estímulos e a receberem as mesmas recompensas, mas mudarem a rotina. Entre as recompensas do álcool estavam o relaxamento, alívio de ansiedade, oportunidade de libertação emocional. Com um sistema de encontros e companheirismo (cada frequentador tem um "padrinho"), o A.A. oferece fuga, alívio e distração, ou seja, uma recompensa similar à da bebida, mas por meio de outra rotina, com a participação de outras pessoas.
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Porém, pesquisadores começaram a questionar a tese de que o A.A. tinha êxito apenas por reprogramar os hábitos de seus participantes. Perceberam que tal substituição de hábitos funcionava bem para muitas pessoas até que algum estresse vivido as lançasse novamente no álcool. Já outros participantes resistiam. Devia haver uma explicação adicional para isso.
Ao investigar melhor, notaram que o fator fé era o ponto crucial e que fazia a diferença. Àqueles que aprendiam a acreditar em alguma coisa, fosse em Deus, na espiritualidade, em um poder supremo, tinham uma capacidade de crer que as coisas iriam melhorar. Em um dia ruim, tinham a crença de que conseguiriam enfrentar o estresse sem o álcool.
Não há nenhuma série de passos infalíveis para mudar hábitos que funcione para qualquer pessoa. Hábitos não podem ser erradicados, mas, em vez disso, devem ser substituídos, como falamos na Regra de Ouro da mudança de hábito. Mas nem isso é suficiente. Para que um hábito siga alterado, as pessoas precisam acreditar que a mudança é possível.
E na maior parte das vezes, a fé só surge com a ajuda de um grupo. Vale para largar o cigarro ou se você quer perder peso. Quer mudar? Procure uma rotina alternativa e amplie suas chances de sucesso se comprometendo a mudar como parte de um grupo, o que fortalecerá sua fé. Nem que seja uma comunidade de duas pessoas.
Faça um teste: como é a sua relação com a fé? Você possui crenças que te ajudam a enfrentar momentos difíceis sem recorrer a hábitos considerados destrutivos?
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