Escrito por Sulivan França - 14 de Junho de 2019

Para entender melhor como tudo isso funciona, continuaremos a examinar as principais lições do livro "Inteligência Emocional", escrito pelo psicólogo norte-americano Daniel Goleman. Está pronto para continuar? Então, vamos lá.  

Reflita: todas as nossas emoções são, em essência, impulsos legados pela nossa evolução para planejamentos instantâneos que visam lidar com a vida. Isso fica bem claro em animais e também nas crianças, das quais cada emoção determina uma ação imediata. O medo, a raiva, a surpresa, a repugnância, as tristezas são acompanhadas de ações. Somente em adultos "civilizados" as emoções, ou seja, esses impulsos para agir, acabam afastados de uma reação óbvia. Do ponto de vista do reino animal, porém, isso é considerado uma anomalia.  

As tendências biológicas para agir são ainda mais moldadas por nossa experiência e pela cultura. Por exemplo, a perda de um ser amado provoca tristeza e luto. Mas, a maneira como demonstramos nosso pesar, como exibimos ou contemos as emoções nesses momentos íntimos, é modelada pela cultura a qual estamos inseridos.  

Faça um teste: reflita como a forma de expressar emoções muda de cultura para cultura. O luto, por exemplo, compare como ele é manifestado em países como EUA, México e Brasil  


Falamos de nossas emoções, mas como as vemos nos outros? Imagine que alguém te conte uma história e, em determinado momento, você percebe que os olhos da pessoa estão cheios de lágrimas. Por meio da empatia, compreendemos que olhos marejados indicam que uma pessoa está triste, mesmo que o que ela diga expresse outra coisa. Na verdade, temos duas mentes, a que raciocina e a que sente. Esses dois modos diferentes de conhecimento interagem na construção de nossa vida mental.  

O cérebro racional é o modo de compreensão de que, em geral, temos consciência. É mais atento e capaz de ponderar e refletir. No entanto, existe a mente emocional, um outro sistema de conhecimento que é impulsivo e poderoso, embora as vezes ilógico. Quanto mais intenso o sentimento, mais dominante é a mente emocional. E mais inoperante a racional.  

Trata-se de uma disposição que parece ter tido origem há bilhões de anos, no início da nossa evolução biológica. Era mais vantajoso que emoções e intuições guiassem nossa reação imediata diante de situações de perigo mortal. Nesses casos, pensar o que fazer poderia nos custar a vida. Na maior parte do tempo, existe um equilíbrio entre as mentes emocional e racional, com a emoção alimentando e informando as operações da mente pensante. E a mente racional refinando e, as vezes, vetando a entrada das emoções.

Embora interligadas, elas agem de forma semi-independente.

Faça um teste: como você avalia a relação entre suas emoções e suas respostas racionais aos acontecimentos? Reflita sobre o equilíbrio entre sua mente racional e emocional. 

 Já falamos de harmonia e equilíbrio, mas o que explica aquelas situações em que parecemos agir sem raciocinar? Chamados de sequestros neurais, eles consistem em explosões emocionais que ocorrem quando uma área da mente, a amígdala cortical, proclama uma emergência e recruta o resto do cérebro para seu plano de urgência.  

O sequestro ocorre em um instante e dispara uma reação antes do cérebro pensante ter a oportunidade de ver tudo o que está acontecendo e dispor do tempo necessário para decidir se aquela ação é uma boa ideia. Uma marca característica desse sequestro é que, assim que passa o momento, o cérebro "possuído" não tem a menor noção do que deu nele.  

Não faltam histórias de pessoas que em minutos de fúria agiram tomadas apenas pela emoção, por impulso, sem raciocinar. Em casos extremos, as emoções são capazes de cegar pessoas a ponto de cometer crimes brutais, como assassinatos.  

Mas, de forma menos catastrófica, sequestros neurais são frequentes. Você se lembra da última vez que "saiu do sério"? Quando, de forma intensa, explodiu com alguém? Nesse caso, pode ser com o filho, o marido, a mulher ou ainda com o motorista de outro carro no trânsito. A tal ponto de depois, com um pouco de reflexão, a coisa parecer imprópria. 

Em nosso cérebro, a amígdala é especializada em questões emocionais. Se for retirada, o resultado é a incapacidade de avaliar o significado emocional dos fatos. Também funciona como um depósito de memória emocional. Ela pode ainda assumir o controle quando o cérebro pensante ainda está em vias de tomar uma decisão. A amígdala e sua interação com o neocórtex, o cérebro racional, estão no centro da inteligência emocional.  

O que é mais intrigante a respeito da força das emoções na vida mental são aqueles momentos de ação passional de que mais tarde nos arrependemos, assim que a poeira baixa. Mas, por que agimos com tanta facilidade de forma irracional? Diante de momentos em que um sentimento impulsivo domina a razão, a partir de sinais que vêm dos sentidos, a amígdala faz uma varredura de toda a experiência, em busca de problemas.  

Ela age como uma sentinela psicológica. É como se perguntasse: "é alguma coisa que eu odeio? Isso me fere? É algo que temo?" Caso a resposta seja "sim", a amígdala reage imediatamente, mandando uma mensagem de emergência para todas as partes do cérebro. Durante uma emergência emocional, ela assume e dirige grande parte do restante do cérebro, inclusive a mente racional.  

Faça um teste: pense nas vezes em que você agiu de modo irracional. Avalie ao que você reagiu, como foi essa reação e o que faria diferente se pudesse voltar àquela situação.  

Estudos mostram que sinais sensoriais do olho ou do ouvido viajam para a amígdala antes de chegar ao neocórtex, o cérebro pensante. Assim, a amígdala começa a responder antes que o neocórtex o faça, pois, o cérebro pensante elabora a informação em vários níveis cerebrais. Isso ajuda a entender porque a emoção tem o poder de superar a razão. 

Tal descoberta invalidou a tese de que a amígdala depende inteiramente de sinais do neocórtex para formular suas reações emocionais. Diante de um estímulo, a amígdala pode fazer com que nos lancemos à ação, enquanto o neocórtex, um pouco mais lento, porém mais plenamente informado, traça um plano de reação mais refinado.

Quanto mais intenso o estímulo da amígdala, mais forte o registro que fica gravado na nossa memória. As experiências que mais nos apavoram ou emocionam na vida estão entre nossas lembranças inesquecíveis. Isso significa que o cérebro tem dois sistemas de memória, um para fatos comuns e outro para aqueles carregados de emoção.

Faça um teste: pense em quais são as suas lembranças inesquecíveis e avalie como elas tiveram ou têm impacto na sua vida. Reflita sobre a carga de emoção nessas lembranças.  

 Como vimos, ao analisar cada situação que estamos vivendo, a amígdala assume o controle das emoções. O problema é que muitas vezes ela compara o que está ocorrendo agora com o que aconteceu no passado, mas nos envia uma mensagem anacrônica. Ela ordena que haja uma reação no presente com meios registrados muito tempo atrás, com pensamentos e emoções aprendidos em resposta a fatos vagamente semelhantes.

E há mais. Muitas lembranças emocionais fortes vêm dos primeiros anos de vida, na relação entre crianças e aqueles que cuidam dela. Isso se aplica sobretudo às situações traumáticas, como surras ou abandono. Embora, algumas áreas do cérebro ainda não estejam desenvolvidas nessa fase, a amígdala está desde o nascimento. Assim, o que ocorre nos primeiros anos de vida estabelece um conjunto de lições, com base na sintonia e perturbações do contato entre a criança e seus cuidadores.

Essas lembranças emocionais se fixam antes mesmo de a criança aprender a falar. Por isso, quando essas memórias são disparadas na vida posterior não temos recursos racionais sobre nossas reações. Ao explodir emocionalmente, nos abalamos, pois muitas vezes isso remonta a um tempo em que não tínhamos palavras para compreender os fatos. Surgem sentimentos caóticos, mas não há palavras para tais lembranças.


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