Nesta manhã, ao abrir os olhos, qual foi a primeira coisa que você fez? Você preparou um café, foi tomar um banho ou já pegou o celular? Escovou os dentes enquanto estava no chuveiro ou só depois de sair do banho? Qual calçado amarrou primeiro, o esquerdo ou o direito? Que caminho fez para ir para o trabalho? Almoçou peixe, salada ou carne bovina? Recusou ou repetiu a sobremesa? Ao voltar para casa, foi se exercitar ou preferiu jantar e tomar uma cerveja enquanto assistia TV?
Já pensou? Agora, reflita sobre esta frase: "toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não é nada além de uma massa de hábitos". Tal afirmação foi escrita pelo filósofo e psicólogo americano William James, em 1892. Pois é, a maioria das escolhas que fazemos a cada dia pode parecer fruto de decisões tomadas com bastante consideração. Pode, mas não é. Na verdade elas são hábitos.
Esse é o tema central do livro "O Poder do Hábito - Porque Fazemos o que Fazemos na Vida e nos Negócios", escrito pelo repórter investigativo norte-americano Charles Duhigg. A obra investiga o que são os hábitos, como eles se formam e, sobretudo, como é possível mudá-los para nosso benefício pessoal e profissional.
De início, somos convidados a considerar o seguinte. Muito embora cada hábito signifique relativamente pouco por si só, ao longo do tempo, as refeições que preferimos, o que falamos aos nossos filhos todas as noites, se conseguimos guardar dinheiro ou gastamos tudo, com qual frequência nos exercitamos, e a forma como organizamos nossos pensamentos e rotinas de trabalho têm relevantes impactos na nossa saúde, produtividade, segurança financeira e felicidade.
Avalie o seguinte dado. De acordo com um estudo publicado nos Estados Unidos em 2006, 4 em cada 10 ações que as pessoas realizavam todos os dias não poderiam ser consideradas decisões de fato. Na verdade, são hábitos.
Faça um teste: anote algumas das suas atividades diárias e procure avaliar quais podem ser consideradas hábitos e quais são decisões. Tente verificar qual a proporção entre elas.
Embora o estudo dos hábitos tenha raízes até a Antiguidade grega, com Aristóteles, por exemplo, somente nas últimas duas décadas neurologistas, psicólogos, sociólogos e publicitários realmente começaram a entender os mecanismos que fazem os hábitos verdadeiramente funcionarem. E, até mais importante, como eles podem ser modificados.
Tecnicamente, hábitos são as escolhas que todos fazemos intencionalmente em algum momento, e nas quais paramos de pensar depois, mas continuamos a fazer, normalmente todo dia. Em certo instante, todos nós decidimos de forma consciente a quantidade de comida que colocaríamos no prato e quando iríamos fazer exercícios. Posteriormente, paramos de fazer escolhas, e o comportamento tornou-se automático. Trata-se de uma consequência natural da nossa neurologia. Ao compreender como isso ocorre, é possível reconfigurar esses padrões da maneira que quiser.
Um excelente exemplo disso é a história de Lisa Allen, de 34 anos. Ela, que começou a fumar e beber aos 16 anos e havia lutado contra a obesidade na maior parte de sua vida, aos 20 poucos anos já acumulava dívidas superiores aos 10 mil dólares e não parava em nenhum emprego.
No entanto, após chegar ao fundo do poço, em decorrência de ter sido traída e abandonada pelo marido, Lisa largou a bebida e o cigarro, perdeu 27 quilos, passou a se exercitar até conseguir participar de uma maratona, comprou uma casa, tinha uma carreira consolidada numa empresa de design gráfico e iniciou um mestrado.
Não à toa, Lisa era considerada a participante favorita dos cientistas em um estudo e que investigava como os padrões comportamentais, ou seja, os hábitos, residem dentro da mente humana. Segundo um médico envolvido na pesquisa com Lisa, ela os estava ajudando a entender como uma decisão se torna um comportamento automático.
Além dela participavam do trabalho outros 20 indivíduos que haviam deixado de ser fumantes, bêbados com problemas, comedores compulsivos, consumistas incorrigíveis, entre outras pessoas com hábitos destrutivos. Em comum, todos eles tinham conseguido reconstruir suas vidas em relativo pouco tempo. E os cientistas buscavam saber como.
Faça um teste: quais hábitos você já teve e, por considerar nocivos, deixou de lado? Lembre qual foi o grau de dificuldade que você teve para abandonar tais hábitos?
Mas deixando por hora o laboratório de lado, devemos entender que os impactos dos hábitos vão bem mais longe do que podemos imaginar em um primeiro momento. Duhigg, que trabalhou no Iraque como jornalista de guerra em 2002, narra uma história que presenciou com as Forças Armadas dos EUA e que mostra como a compreensão de hábitos pode fazer uma diferença valiosa e, neste caso, até vital.
De uma forma experimental, um major do Exército norte-americano conseguiu o que todos os comandantes tentavam no país do Oriente Médio: reduzir o número crescente de tumultos entre a população e, consequentemente, as mortes. E fez isso por perceber um curioso padrão. Ao analisar fitas de vídeo de agitações recentes na cidade de Kufa, ele notou que a violência ocorria após a reunião de uma multidão de iraquianos, que se acumulava ao longo de muitas horas, em praças ou outros espaços abertos.
Primeiro chegavam vendedores ambulantes de comida. Ao mesmo tempo começavam a se reunir no local mais e mais pessoas. Neste cenário, bastava alguém lançar uma garrafa ou uma pedra para o caos ter início. O major, então, pediu ao prefeito de Kufa apenas uma coisa: que mantivesse os ambulantes longe das praças.
Na primeira oportunidade, semanas depois, uma multidão se reuniu em torno de uma mesquita. O número de pessoas foi aumentando ao longo da tarde e logo algumas delas começaram a gritar frases de protesto. A polícia iraquiana, temendo um conflito, alertou as tropas americanas, para que ficassem de sobreaviso.
Foi escurecendo e a população se mostrou inquieta e, ao mesmo tempo, faminta. Porém, ao procurarem os vendedores de comida, não encontraram. E assim, boa parte de quem estava na praça foi embora. Quem protestava, logo desanimou. Por volta das oito da noite, o local já estava vazio.
As pessoas não pensam necessariamente na dinâmica de uma multidão em termos de hábitos, explicou aquele major, que passara toda sua carreira sendo treinado na psicologia da formação de hábitos. Segundo ele, multidões e culturas, como percebeu no Iraque, seguiam muitas das mesmas regras.
Assim, em um certo sentido, uma comunidade poderia ser considerada como um aglomerado gigante de hábitos que ocorriam entre milhares de pessoas e que, a depender da forma como eram influenciadas, podia resultar em violência ou em paz.
Faça um teste: a partir deste exemplo do Iraque, quais hábitos similares que você identificaria como sendo de comunidades? Pense em como eles podem ser influenciados.
A partir dos anos 2000, nossa compreensão da neurologia dos hábitos e do modo como os padrões funcionam dentro de nossas vidas sociedades e organizações expandiu-se de maneira que não poderíamos ter imaginado 50 anos antes.
Agora sabemos por que os hábitos surgem, como eles mudam, e a ciência que há por trás de seus mecanismos. Sabemos ainda como dividi-los em partes e reconstruí-los de acordo com nossas determinações. Já é possível entender como fazer as pessoas comerem em menor quantidade, se exercitarem mais, trabalharem de forma mais eficiente e levarem vidas mais saudáveis. Transformar um hábito não é algo necessariamente fácil tampouco rápido. Também nem sempre é simples. Mas é possível. E agora entendemos como.
Faça um teste: reflita sobre seus hábitos alimentares, as suas horas de sono e a quantidade de exercícios que faz. O que mudaria em cada um deles? Como tal mudança é possível?
Mas este nosso primeiro encontro fica por aqui. Existem muitas coisas ainda para falarmos quando o assunto é hábito e faremos isso em nossas próximas análises. Mas, atenção! Essa é apenas uma pausa do 80 Minutos. Aproveite para avaliar seus hábitos e refletir como eles impactam em sua vida.
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