Escrito por Sulivan França - 17 de Junho de 2019

Para você todos somos responsáveis por nossos hábitos? Antes de responder, veja as histórias de Brian Thomas e Angie Bachmann. 

Sonâmbulo desde a infância, Brian Thomas acordou em uma noite e viu um homem atacando sua mulher. Para defendê-la, lutou e apertou o pescoço do estranho, até ele ficar imóvel. Só aí, Thomas percebeu que não era um invasor que ele segurava, mas Christine, sua mulher. Quando a soltou, ela já estava morta. Desesperado, ele ligou para a polícia contando tudo. 

O sonambulismo ocorre por uma falha de processamento no cérebro de algumas pessoas. Em vez de o corpo ficar parado durante o sono, ele continua ativo enquanto a pessoa sonha. Para a maioria dos sonâmbulos, é um incômodo, mas nada mais grave. 

Por lei, a polícia deveria indiciar Thomas, mas evidências mostravam um casal feliz. Um especialista em sono avaliou se o marido estava inconsciente durante o assassinato. Após exames, foi constatado que Thomas estava dormindo ao matar a mulher. Não havia cometido um crime consciente. O júri o inocentou. 


Angie era dona de casa, com marido trabalhador e três filhas que passavam o dia na escola ou com amigas. Se sentindo vazia, ela começou a jogar em um cassino. Ganhava e perdia. Até o dia em que não tinha dinheiro para pagar a conta de luz da família. Teve de pedir um empréstimo aos pais. O primeiro de vários. 

Ela não percebeu como algo divertido se tornou incontrolável. Em 2001, ia ao cassino todos os dias e as dívidas eram de 20 mil dólares. Contratou advogados, que ao tribunal alegaram que Angie não jogava por escolha, mas por hábito. Ela havia arruinado sua vida e a do marido, ao perder tudo o que tinham e jogado fora centenas de milhares de dólares. 

Três anos após a falência, os pais de Angie morreram e lhe deixaram uma herança de quase um milhão de dólares. Ela comprou uma casa e procurou se manter longe dos jogos. Mas logo teve uma recaída e passou a jogar pesado. Se chegou a ganhar 60 mil dólares numa noite, em outra ocasião perdeu 250 mil dólares em 12 horas. 

Em 2006, Angie tinha uma conta bancária quase zerada e calculava ter perdido 900 mil dólares. Numa última ida aos jogos, perdeu o dinheiro que ainda tinha e saiu com dívidas de 125 mil dólares. Ela já havia hipotecado a casa por uma linha de crédito. 

Thomas assassinou a mulher. Angie perdeu o que tinha no jogo. A sociedade, porém, tratou as responsabilidades nos dois casos de forma bem diferente. 

Em 2010, um estudo comparou a atividade cerebral de apostadores compulsivos com a de jogadores eventuais. A maior diferença ocorria diante de uma "quase vitória", quando números e figuras pareciam que iam se alinhar na máquina caça-níquel, mas, no último segundo, isso não ocorria. Para compulsivos, perder por pouco era parecido com vencer, pois o cérebro deles processava da mesma forma. Para um jogador eventual, porém, quase ganhar significava ter sido derrotado. 

Isso explicaria porque viciados passam mais tempo nas apostas do que os outros. Enquanto o compulsivo obtém uma dose de prazer mental com a quase vitória e segue jogando, os demais ficam apreensivos diante do que corretamente interpretam como uma derrota e param antes de perderem mais dinheiro. 

A defesa de Thomas argumentou que seu cliente não era culpado pela morte da mulher, pois agiu inconsciente. Ele nunca escolheu matá-la. Segundo a neurociência, algumas pessoas com lesões cerebrais perdem o livre-arbítrio. Um jogador compulsivo diante de um cassino seria semelhante, pois parece estar agindo sem escolha. Os advogados de Angie alegaram que ao entrar em contato com o jogo, os hábitos dela assumiam o comando e era impossível controlar seu comportamento. 

Thomas foi absolvido e Angie responsabilizada. 

Todo hábito, por mais complexo, é maleável. O pior alcoólatra pode ficar sóbrio. Porém, para mudar um hábito, você precisa decidir mudá-lo. Deve aceitar conscientemente a dura tarefa de identificar estímulos e recompensas que impulsionam as rotinas e achar opções. 

Assim, embora tanto Angie quanto Thomas tenham alegado que agiram sem controle de suas ações, parece justo que tenham sido tratados de forma diferente. A libertação de Thomas ocorreu porque ele nunca soube que os padrões que o levaram a matar existiam. E ao saber que um hábito existe, você tem a responsabilidade de mudá-lo. Se Angie tivesse tentado com mais de empenho, talvez conseguisse dominar suas compulsões. 

Se você acredita que pode mudar, e se faz disso um hábito, a mudança se torna real. Este é o verdadeiro poder do hábito, a revelação de que seus hábitos são o que você escolhe que eles sejam. 

E que tal um modelo básico para mudar um hábito em quatro passos? Acredite: com tempo e esforço, qualquer hábito pode ser reformulado. O primeiro passo é identificar a rotina. Imagine que você queira perder peso, mas toda tarde faz uma pausa no trabalho e vai até uma lanchonete comprar um chocolate. Lá conversa com colegas. Nesse caso, a rotina é tudo o que envolve a escapada (sair do trabalho, comprar o chocolate, conversar com colegas). 

O segundo passo é testar recompensas. Será o chocolate? A saída do trabalho? Conversar com colegas? Recompensas satisfazem anseios, coisas difíceis de detectar. Para descobrir um anseio, experimente recompensas diferentes. Isso pode levar dias, uma semana, ou mais. Ao sentir impulso de ir à lanchonete, pense numa recompensa diferente. 

No primeiro dia, dê uma volta no quarteirão e volte sem comer nada. No dia seguinte, vá até a lanchonete, mas compre uma maçã e coma enquanto fala com os colegas. Em outro dia, tome um café, vá até a sala de um colega, converse e volte. O objetivo é verificar hipóteses diferentes para determinar qual anseio está impulsionando a rotina. 

Programe um alarme e marque 15 minutos. Quando ele tocar, pergunte a si mesmo: você ainda sente impulso de comer o chocolate? A ideia é ver qual é a recompensa que está ligada ao seu anseio. Por exemplo, se depois de 15 minutos após conversar com um colega, você ainda quiser o chocolate, então sua motivação não é por contato humano. Mas, se 15 minutos após conversar com o colega, você achar fácil voltar ao trabalho, então identificou a recompensa, uma distração e socialização rápida, que seu hábito procurava satisfazer. Ao identificar a recompensa, você pode isolar o real anseio, algo determinante para reestruturar um hábito. 

Falta agora identificar o estímulo, o terceiro passo. Para isso, utilize as cinco categorias seguintes, pois quase todas as deixas habituais se encaixam nelas.

Lugar: Onde você está? (por exemplo: sentado na minha mesa)

Horas: Que horas são? (15h30)

Estado emocional: Qual é o seu estado emocional? (entediado)

Outras pessoas: Quem mais está por perto? (ninguém)

Ação anterior: Qual foi a ação anterior ao impulso? (respondi um e-mail)

No nosso exemplo, se você tenta descobrir qual é o estímulo que te faz escapar do trabalho para comprar um chocolate, responda as cinco perguntas. Ao registrá-las, dia após dia, você terá dados para analisar e buscar qual é o estímulo que desperta seu hábito. 

O quarto passo é adotar um plano. Já tendo descoberto o estímulo, a rotina e a recompensa, você pode começar a alterar seus comportamentos. Lembre-se de que um hábito é uma escolha intencional na qual paramos de pensar a respeito, mas continuamos fazendo, às vezes todos os dias. Para reprogramar isso, é necessário passar a fazer escolhas outra vez. Ter um plano ajuda. 

No exemplo do chocolate, pense assim: em vez de ir à lanchonete vou até a mesa de um colega e converso por 10 minutos antes de voltar. Para lembrá-lo, coloque um alarme para o horário em que costuma ir comprar o chocolate. Com o tempo, provavelmente o novo hábito deverá substituir a compra do chocolate. 


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