Certa vez, numa palestra promovida pela HSM, o jornalista Gilberto Dimenstein citou o amigo Rubem Alves: "Só ostras incomodadas geram pérolas". E completou: pessoas felizes não criam porque ficam na "pasmaceira da felicidade".

Como estudioso fanático que sou, assisti ao vídeo inúmeras vezes e confesso que esta frase sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. Estariam eles a recomendar a "tristeza" para que o mundo fosse agraciado com grandes obras?

Depois de um tempo, passei a me sentir reconfortado por uma nova interpretação que dei para isso. É que viver conflitos é inevitável. Portanto, podemos aprender com momentos intensos. Além disso, está claro que eles estimulam a criatividade.

O que seria do ser humano se, às vezes, os sentimentos não ficassem à flor da pele? Cabe mencionar uma frase atribuída a Marilyn Monroe: "A imperfeição é bela, a loucura é genial e é melhor ser absolutamente ridículo que absolutamente chato".

Triste ou feliz, acredito que é fundamental criar. Criar coisas novas, que mudem o roteiro. O problema é que, como dizia Tom Jobim, "no Brasil, sucesso é ofensa pessoal". O brasileiro não celebra as conquistas dos que tentam fazer algo.

Um texto do economista Ricardo Amorim traz uma frase que se encaixa bem: "Nos EUA, um empresário de sucesso desperta admiração, no Brasil, desconfiança". Até quando vamos tentar justificar o sucesso dos outros com teses absurdas?

Tem outra interpretação possível para a questão das ostras incomodadas. Parece-me que, para grandes realizações, precisamos de um grau maior de insatisfação. Aquela inquietação que faz com que você melhore ainda mais um projeto.

Acomodados apenas empurram com a barriga e não enxergam potencial em nada além do que pode contribuir com a acomodação. Até porque enxergar dá muito trabalho. Para colocar em prática, então, seria outro parto.

Participei recentemente de um encontro de palestrantes em São Paulo e foi um prazer imenso estar ao lado de grandes feras, como Leila Navarro, Alfredo Rocha, Professor Gretz, Reinaldo Polito e Caco Barcellos. Troca de experiências pura.

Um dos organizadores contou que se motivou a realizar o evento, entre outros fatores, porque um conhecido informou que também queria ser palestrante. Seria uma oportunidade maravilhosa para ele. Seria. Não compareceu.


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