O aumento da insatisfação está ligado à falta de qualificação profissional para se desenvolver dentro da carreira ? e também na dificuldade para obter essa qualificação. A pesquisa Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem), divulgada esta semana pela Rede Nossa São Paulo e produzida pelo Ibope Inteligência, entrevistou 1.512 moradores da capital paulista com 16 anos ou mais entre os dias 25 de novembro e 12 de dezembro de 2011.
O levantamento mostra que a nota de 1 a 10 para o nível da satisfação com a expectativa de futuro para a carreira caiu de 6,7 em 2010 para 6,4 em 2011, na média. O coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broizini Pereira, atribuiu essa queda a descontinuidade na formação dos profissionais. "Uma hipótese que temos é que o nível de exigência no trabalho tem subido, enquanto a qualificação profissional não tem acompanhado. Nesse quadro, é difícil crescer na profissão, pois se não há formação, a carreira da pessoa ficará estacionada", explica Pereira.
Formação profissional
Até pela questão da formação profissional, o nível de insatisfação é maior entre os que têm menor escolaridade. Segundo o levantamento, 41% dos entrevistados que estudaram até a 4º série do ensino fundamental não está contente com os próximos anos de carreira. Entre os consultados com curso superior, o porcentual cai a 27%. Para o diretor executivo da Sociedade Latino Americana de Coaching (SLAC), Mike Martins, o que ocorre com muitos profissionais é que eles deixam de continuar o processo de formação quando conseguem um emprego.
"Muitas vezes, as pessoas deixam de buscar aperfeiçoamento quando arrumam um trabalho, só que isso também o impedirá de se desenvolver na carreira." Segundo Martins, essa insatisfação pode ser combatida com a busca por qualificação e um planejamento profissional. "O profissional precisa ter metas, analisar onde quer estar nos próximos anos, e assim, voltar a estudar." Na opinião do coordenador da Rede Nossa São Paulo, outro fator que pesa na insatisfação com o trabalho é a falta de políticas públicas que atendam as necessidades do mercado. "Falta formação profissional, pois há muita gente fora do mercado por questões de qualificação. Até para ser caixa de supermercado é preciso noções de informática."
Desequilíbrio
Outro ponto relacionado ao trabalho em que os paulistanos mostram crescimento da insatisfação foi no quesito equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal. Do total de entrevistados, 36% deles se disseram descontentes em 2011. Os insatisfeitos eram 32% na pesquisa realizada em 2010.
O diretor de negócios da Mercer, consultoria em recursos humanos, Marcelo Ferrari, diz que o desequilíbrio tem sido um dos maiores desafios para os profissionais atualmente. "A carga de estresse, pressão, acúmulo de função, cobrança por resultados é cada vez maior, o que faz com que muitos deixem de lado a vida pessoal por causa do trabalho.
A tecnologia também possibilitou que as pessoas estejam ligadas no trabalho 24 horas por dia. No entanto, isso pode trazer sérios problemas para a empresa e para o empregado, não apenas no que diz respeito à produtividade, mas até para a saúde de quem vive nesse desequilíbrio." Os entrevistados também mostraram descontentamento em relação à renda, passando de 48% de descontentes para 51%.
No entanto, não foram os ganhos dos trabalhadores que diminuíram, segundo Pereira, mas sim o comprometimento da renda desses profissionais que aumentou. "Os salários tem crescido nos últimos anos, como o salário mínimo, que tem subido ano a ano. A questão é que com o estímulo ao consumo e o crédito fácil, as pessoas estão mais endividadas e a renda tem limite, o que faz sobrar menos no mês", explica Maurício Pereira.
Fonte: Jornal da Tarde
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